Retorno as letras é uma tentativa meio que infeliz de me explicar a mim mesma a crise da qual estou passando hoje.

Em tempos difíceis principalmente, ou de extrema alegria, sempre me pus a redigir, a compor letras em harmonia com meu estado de espírito, mas nestes últimos meses, mal tive coragem de sair de casa, que dirá manifestar-me literariamente frente aos meus poucos, porém fiéis leitores...
Mas passando por períodos muito mais tempestuosos e dês-saborosos, passei a crer, meus queridos, que a vida não me tinha mais razão ou sentido.
As salas já não me inspiravam como antes, os alunos deixaram de me motivar, o lecionar tornou-se um transtorno frente à tamanha desordem e indisciplina dos alunos, inclusive dos próprios pais dos mesmos. A revolta com o baixo salário e a desvalorização de um profissional que supostamente leva, ou não, o futuro do país em suas mãos, pelo menos aos poucos que levam efetivamente este ofício a sério, e posso garantir-lhe que sou um deles.
Descrente de qualquer religião, de qualquer manifestação de gratidão humana. Descrente do amor, que sinto pelas pessoas, mas principalmente descrente do amor que qualquer pessoa deposita, depositou ou depositaria sobre mim. Descrente de toda uma vida, de ilusões e sonhos irrompidos e corrompidos pela maçante e degradante sociedade paulista se não for possível dizer Nacional.
Descrente de minha arte, do único dom a mim delegado, em descontento com as injustiças de uma fama inglória dos outros e com meu anonimato, julgado, por mim, tão injusto.
Em prantos, por um salário “miserável” diante de um nível social por mim alcançado, me sentido impotente frente a tamanho descaso com a realidade financeira minha e da maior parte dos que me cercam.
Foi aí que então percebi, me vender para obter apenas CAPITAL, poderia me trazer retornos de ajudar as pessoas (como assim eu cria que o deveria fazer como função vital), com muito mais suporte e aparato do que hoje posso propiciar, daquele discursos por tantas vezes preso na garganta, que não fazia a menor diferença diante dos que me ouviam ou dos que tinham em mim uma referência (se é que de fato creio que isso é possível).
Foi então, que “caiu a ficha” que a máquina só funciona efetivamente neste mercado de vida, se houver as fichas certas para jogar... Que por mais que você queira dar amor, as pessoas só entendem isso com dinheiro, por mais que você tente ensinar ética, as pessoas só entendem se tiverem cédulas suficientes para subornar alguém, por mais que você tente mostrar o que é respeito, este só será assimilado ao pagar uma multa por uma atitude totalmente infratora e não corrompível.
É exatamente neste momento que vemos como as pessoas querem ser “felizes para sempre”, em suas casas grandes, seus carros de luxo, suas viagens anuais para algum lugar; para liberar o estresse, suas cirurgias estéticas, para se enquadrarem na sociedade deflagrada de conceitos e constituir uma família na qual seus filhos irão ser educados por escolas “conceituadas” e terem um futuro brilhante, ainda que este seja vender seu desejo de felicidade e de caridade, em pró de sua conta bancária, para viver também seus “felizes para sempre”.
Mas o ser feliz para sempre hoje, já também exclui a idéia de encontrar a alma gêmea, uma vez que o nível de tolerância diminui em pró do aumento dos níveis de estresse e a vida conjugal: ou nem se quer vem a acontecer, ou se desfaz em pouco tempo de convívio. E então você descobre que solteiro ou separado, você terá que comprar uma “casa” na qual um assalariado como eu, conseguirá pagar o imóvel, em aproximadamente 25 a 30 anos, o quer dizer que já que, não há alma gêmea, não há salário digno, não há casa, e por vezes, nem carro, não há tantas viagens, tampouco as cirurgias que equivalem a participação social, o sonho do “viver feliz para sempre” se torna um pesadelo constante por mais de 30 anos, isto se, você não atrasar nenhuma parcela, ou não der nenhum problema administrativo por trás de tudo.
Chegando a um veredito final... De que vale tudo isso?
Há alguns anos conheci uma pessoa que me fez entender que era o niilismo, que eu nunca havia conseguido entender, porque jamais compactuaria com a idéia de aceitar minha condição social e a da maior parte da população que morre de fome (mesmo sabendo que isso é uma característica da sociedade contemporânea de acordo com estudos de Jair Ferreira dos Santos), por um conformismo apático diante de um mundo que se modifica constantemente, diariamente. Mas hoje, acho que posso entender de fato, o que aquela pessoa sentia ao expressar conduta niilista. Não é um conformismo, mas um pacto continuar são...
Não é uma apatia, mas uma ordem para seu cérebro não desistir de tudo na primeira esquina...
Não é descaso é a certeza de que nada do que você fizer, vai gerar grandes mudanças, é aceitar que grandes mudanças começam com pequenos gestos...
É ter a certeza de que nada do que você está tentando mudar, vai de fato mudar, melhorar ou andar no ritmo que você determina, que ser um “deus” na terra, e se Eternizar não é uma missão, é um acontecimento, que pode partir de você, mas que nunca dependerá de ti.
É aceitar que mesmo cometendo todos os erros do mundo, você cada dia mais, vai crer que os dias de hoje, são piores que os de seu tempo e que estes estão cada vez pior, porque estamos fechados demais para aceitar o novo, o desafio e as diárias mudanças e atualmente sempre repentinas destas novas gerações que surgem para enfrentar os problemas que nós estamos gerando hoje...
É ver que o mundo é feito de escolhas, e por maior que seja este Marketing, talvez seja uma das únicas frases efetivamente inteligentes nas mídias de massa hoje, porque você está escolhendo ler isso, e eu estou escolhendo tentar melhorar, tentar superar esta crise tão depreciosa e injusta pela qual tenho vivido nestes últimos tempos, não por conformismo ou niilismo, mas pela certeza de que isso foi uma escolha, e embora eu não seja a mulher maravilha, nem tenha asas para voar, sou uma pessoa que sonha com um futuro melhor, e a partir de hoje, tenho que sonhar com uma vida melhor, para mim.
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