O Toque
Algo simples,
casual, de fácil compreensão.
Esta era a visão
que todos tinham quando se depararam com tudo explicado ao fim da tarde, no
entanto, o que de fato fervilhava dentro de minha mente era a complexidade,
sobretudo humana, frente ao minucioso e articulável ocorrido imaginariamente
real, que estava por trás de tudo aquilo.
Transbordante de
questionamentos, me conduzi a um universo imaginativo que explicava com três ou
quatro justificativas diferentes os problemas presentes naquelas cenas que fui
obrigada a presenciar.
Ouvi das
pessoas: “Tudo vai ficar bem!”, “Não
fique assim!”, “Há que se tirar um ponto positivo de tudo isso!”, “Se acalme,
minha querida, a vida é assim mesmo!”, “Ela é a única certeza que temos na
vida!”. Mas eu só conseguia pensar: “ E se eu tivesse dito que a amava?”, “ E se
naquele dia que saímos a noite, eu tivesse segurado sua mão e não a tivesse
deixado ir?”, “O que aconteceria conosco hoje?”, “Eu poderia ter ligado naquele
momento e talvez o meu telefonema tivesse impedido algo pior” ... Foram tantas
histórias surgindo em minha mente, tantas possibilidades, tantas poeiras
embaixo do tapete se transformaram em grandes pedras que cresceram mais e mais,
tantas memórias perdidas no vento, e nada, nada, absolutamente nada pude
dizer... só me restou calar!
Fixei-me numa
frase logo após as tentativas de conforto “é a única certeza que temos!”. E meu
questionamento é justamente como podemos temer, ser tão indiferente e ao mesmo
tempo ignorante frente a única certeza que temos! E reafirmei preciso de novas
convicções e acima de tudo, preciso saber mais sobre tudo que ela me trará.
Alguma coisa
atípica interiorizou-se dentro de mim, me colando a certeza que tudo seria mais
triunfante, que tudo poderia me trazer a certezas de volta e que talvez, me
diminuísse um pouco aquela sensação desesperadora que me corroia a alma,
mergulhando nos livros, buscando novas convicções, novas informações e nada do
que eu fazia, nada do que lia, nada do que afirmava, para mim e para o mundo,
possibilitava mudanças no mundo sentimental do meu coração.
Conversando
intensamente sobre o assunto com filósofos, mestres, doutores, PhDs, versando
textos, citando celebridades, declamando poetas, solfejando profetas, incansavelmente
buscando no meu universo, resposta para tamanha dor, e o infortúnio de um busca
desenfreada, sem explicações, nem confortos, nem verdades ninguém pode
acalantar minha alma, significar algo dentro de mim.
Quando a
esperança já se despedia da razão, comecei a caminhar pela rua, sem rumo e
quase sem alma, observado as certezas que os meus olhos mostravam, e
interpretando estas visões com as histórias que me coração me contavam,
sentei-me numa calçada longe de casa, deslocada e isolada de todos. Uma pessoa
descalça, maltrapilha parou diante de mim, eu percebendo ser observada por esta
que se punha diante de mim, mantive a cabeça baixa na certeza de que isso faria
com que a mesma se afastasse. Mas esta pessoa se manteve ali estática diante de
meu corpo jogado ao chão. Não tive se não outra reação: bem lentamente ergui
meus olhos diante da tal aparição. Mesmo eu torcendo para que fosse um profeta
celestial, isso não o tornou menos ou mais do que simplesmente era, seus olhos
fixos diante de mim... com um sorriso questionador nos lábios se mostrando
solícito ao meu caso, não proferiu palavra alguma, só me observou por muito
tempo.
Eu tomei a
frente da situação visto que não tinha mais opções:
- Posso ajudar?
A pessoa não
esboçou reação, apenas riu de mim, uma gargalhada que jamais vou esquecer. E
então entendi o motivo, a arrogância da minha frase ecoou dentro dela, se
compadecendo de minha condição ridícula, eu de fato jamais poderia ajudar
alguém, só a mim mesma, e nem isso eu estava conseguindo fazer. Neste momento, percebendo minha mísera
condição digna de pena:
- E você? Pode
me ajudar? – disse eu.
Mais que
depressa, ela abraçou a única posse que detinha, uma bolsa que transpassava o
corpo esguio, sua tensão nos braços, relaxaram e comovida entregou-me talvez a
única nota que tinha em sua posse. Balancei a cabeça, vi que um alívio soou em seu
peito, mais que depressa guardou seu pertence e sentou-se ao meu lado, segurou
minhas mãos. Senti um calafrio com aquela mão gelada, suja e quase sem
identidades, ela colocou minha mão em direção ao meu coração e só proferiu uma
palavra: “Fé”. Deu um beijo em minha mão, sorriu de novo se levantou e partiu.
Percebi que eu
precisava acreditar em mim, em meu coração e acreditar era muito mais que
saber, conhecer, explicar, era preciso mais que isso. Era preciso sentir. Era como
o amor, não se explica, não se questiona, não se reponde, simplesmente se
sente. Eu precisava acreditar mais em tudo que vivia, em tudo que eu era, em
cada coisa que estava sentindo dentro de mim. A vida é curta demais para
buscarmos todas as respostas e era preciso correr, correr para poder sentir
mais e mais a voz do meu coração.
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