Sexta eu estava andando pela Brigadeiro Faria Lima, pertinho da Paulista... Qual foi minha surpresa, quando me vi parada na calçada olhando para a faixa de pedestre.... aguardando ansiosamente que o semáforo fechasse, afinal já tinha sido abordada por um cara estranho que ao invés de falar o que queria comigo, ficou perguntando se podia falar e quando eu esbocei um estou com pressa... sem nem ao menos iniciar a frase, ele já disse: -Calma eu naum quero dinheiro. - Logo percebi que se desse trela, eu perderia o metrô e me atrasaria para encontrar a mãe na estação Santa Cruz!
Então disse: - Desculpe, não posso te ajudar, nem dar informação porque não sou daqui... - e a resposta imediata > Não é informação...> Ora, se não era informação, nem dinheiro? Por que daria eu bola para aquele senhor, disse que estava com presa e que estava atrasada, e que não poderia conversar!
Várias coisas me passaram pela cabeça naquele momento, a sensação de desgraçada de não se dar ao respeito de ouvir alguém que precisava falar... O medo, que vinha pelas espinhas, de algo ruim acontecer à gente era maior que a dignidade de respeitar àquele homem a minha frente, mas mais que isso... o tempo... o senhor dos problemas diários do ser humano que nos torna escravos de algo tão irreal.
Enfim, imaginei tantas coisas acontecendo com aquele homem e sua imagem registrada à minha frente não me faziam parar de pensar- " bbbbbbbiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!""" UHHHUU" - Uma freada brusca de carro me fez voltar à faixa de pedestre... um homem, não sei se bêbado, ou drogado, ou simplemente fora da realidade social imposta pela sociedade presente, passava pela faixa de pedestre tranquilamente, esperava um carro alí outro aqui, mas entre eles desviava de um ou de outro e fez com que o tempo dos automóveis se rendessem ao homem que passava sem pressa, ironicamente, pela faixa com o semáforo fechado pra ele!!
Buzinadas, freios e outros nomes soaram na frenética anti-música de São Paulo, creio que mais um pedido de socorro do que qualquer outra coisa, quando ouço atrás de mim: - Tudo bem, se morrer será um favor que faz pra gente! - Meu coração aceleou.... tudo dentro de mim parou, um silêncio tomou conta de mim, parecia não exisitir mais vida terrena alí naquele momento, os sons se apagaram e o meu espírito gritava, a vontade de olhar para o homem e dizer: -Espero que seu filho jamais se encontre em semelhança situação, ou até mesmo você!!- Que somos nós para diante de tal atitude inferiorizar a vida a ponto de dizer algo tão cruel... tão sem sentimento, tão podre...
E ainda pouco... acabava de ter feito o mesmo, ao evitar o homem com preconteitos, com a ausência de minha alma!!
Ó céus que fazes destes míseros seres que não orientam mais o amor, ou a compaixão... O homem atrás de mim, com certeza sonharia com uma sociedade em que colocar o pé na guia era sinônimo de carros parados, mas quem somos nós para fazermos julgamentos precipitados do mundo. - Pronto o semáforo abriu... um homem lindo alto e de óculos, me chama a atenção nossos olhares cruzam-se na esquina, esqueço de tudo que pensava... sim, a animalização... Já havia me esquecido dela!!