domingo, 14 de outubro de 2007

Conto criado para aula de poética



Mulher mais velha, garoto adolescente, e tudo que poderia acontecer na imaginação íntima de uma destas personagens, o que poderia mas que nunca foi, nem nunca vai ser.

Sobre nossa idade

Três e meia da tarde entra no ônibus, olha, paga a passagem, passa a catraca, senta-se ao lado de um garoto, deve ter seus 16 anos, menino de colegial, vestido com um uniforme de uma escola um pouco distante daquele ponto. Ele morrendo de sono, recosta a cabeça no vidro e cochila.
Observando-o, atenta-se aos traços finos do rosto do garoto: delicado, ainda guardando em sua pela, as marcada da adolescência. De repente aquela alma doce que dormia ao seu lado, com o balançar forte do veículo, perde o equilíbrio e repousa a cabeça sobre o ombro da pessoa sentada ao seu lado.
Ele acorda, percebendo que caíra, olha sem jeito pedindo desculpas. Mas alguma coisa naquele cruzar de olhares aconteceu. Por isso começa a observa-lo com maior interesse. Passa a reparar no braço esquerdo dele, que agora segurava o banco da frente; forte, musculoso, onde suas veias escuras sobressaltavam daquela pele alva e jovem, nunca havia reparado como aquela parte do corpo poderia ser tão atraente, ainda mais em se tratando de um rapaz tão novo.
Com os olhos ainda torpes por causa da sonolência o jovem volta a encostar a cabeça no vidro, mas o sono não vem, provavelmente o receio de cair novamente, ele tem o olhar atento para fora, tentando ver alguma coisa que não existia. A pessoa sentada ao seu lado, observando-o atentamente para ver se poderia encontrar novamente um olhar, o mesmo que lhe despertou um grande interesse, mesmo sabendo que o outro não estava vendo da mesma maneira. Já que sua face já estava prejudicada pelos seus 33 anos, mas esta diferença temporal, não impediria de vê-lo como homem que era.
Por parte do destino, quem sabe?... O ônibus fez uma curva brusca e o material dela vai para o chão, declina-se para pegar, ele ajuda e foi quando aconteceu: olhos nos olhos nova sintonia. Retornam ao eixo vertical, sem perderem aquele olhar. A sensação: assustadora, mas não por suas idades, e sim pelo desejo emocionante que fez aqueles dois corpos liberarem uma essência brutal, a necessidade mútua de estarem juntos. Agradece contida, ele diz que foi um prazer.
Voltam cada um para seu universo, ele levanta para descer e coincidentemente no mesmo ponto que ela. Descem. Ela logo depois, acompanhando-o com o olhar até perder de vista. Jamais esquecerá o que presenciara naquele dia, naqueles braços, naquele olhar, naquele homem.

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